

Movimento Cultural
de Capoeira Angola
Guayamuns
Mestre Jaburu - RS

MESTRE JABURU
José Alberto Melo Ferreira, Mestre Jaburu, nascido em 1963, é morador de uma das maiores periferias de Porto Alegre - a Restinga. Filho de Dona Leda e Seu Borel (Valter Calixto), ambos naturais dos territórios negros das áreas centrais de Porto Alegre, RS (Ilhota, Colônia Africana e Cidade Baixa), figuras importantes do Carnaval, do Samba, e, principalmente, das Nações Africanas que compõem o Batuque do Rio Grande do Sul. Em homenagem à sua ancestralidade, Mestre Jaburu e o Movimento Guayamuns, todos os finais de ano, promovem uma Roda de Capoeira no monumento ao Orixá Bará, assentado no Mercado Público da cidade. Juntos, agradecemos ao Orixá, Senhor do Mercado, do Movimento e dos Caminhos "pela Capoeira eu poder jogar" (corrido de Capoeira).
Em 1973, a família vai morar no Rio de Janeiro e, em 1974, Mestre Jaburu tem o primeiro contato com a Capoeira, na Quinta da Boa Vista, na roda de Mestre Nélson (King Kong), capoeirista de rua. Nessa época conheceu também Mestre Touro, Mestre Dentinho da Penha, Mestre Corvão, entre outros.
"Nós fazia nossa vadiação na Quinta da Boa Vista, em um coreto construído sobre uma antiga senzala. Essa cabana ficava em cima de umas pedras, e embaixo era a senzala (...). A Quinta era a casa do Dom Pedro II, os escravos ficavam ali embaixo descansando ou fazendo sua refeição com o que tinha pra comer… pra sair depois pro trabalho de novo. Não morava ninguém lá! É um lugar que nem a Redenção... A casa (...) é um museu agora: tem senzalas, pelourinhos, tudo daquela época da escravidão, pois Dom Pedro II tinha posse de muitos escravos. Então tudo acontecia em cima dessa senzala e a gente treinava no final da tarde e Mestre Nélson ficava ali me ensinando os passos da Capoeira, me dando conselhos… mas não era só ele, tinha o Sarará que ficava ali junto, e outros também" (entrevista com Mestre Jaburu em 2006).
Em 1980, retorna a Porto Alegre e estimulado por seu irmão Norberto (Beto Fuzuê), passa a integrar as rodas de Capoeira do “Parque da Redenção”, junto ao mais antigo coletivo de Capoeira Angola da capital gaúcha, a Associação Cultural de Capoeira Angola Zumbi dos Palmares (ACCAZUP), do Mestre Churrasco. Em 1983, vai servir ao Exército, na Brigada Paraquedista (PQD), no RJ. Em 1985, volta a morar definitivamente em Porto Alegre e conhece Mestre Miguel Machado, fundador do Grupo de Capoeira Angola e Regional Cativeiro, passando a ministrar aulas nesse grupo, até 1995. Nesse mesmo ano, desligou-se do grupo para fundar, junto ao então Professor Ratinho, o Grupo de Capoeira Angola Rabo de Arraia. Nesse período, através de convênio firmado com a Prefeitura de Porto Alegre, passou a ministrar oficinas de Capoeira pela FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania), que atendia crianças em situação de vulnerabilidade social, em Centros Comunitários como CECORES, CEJEB, CECOFLOR, CECOPAM e outros.
Para Mestre Jaburu, sempre foi motivo de orgulho ter aprendido a Capoeira no RJ, onde existiram as famosas "Maltas" (termo policial para designar grupos de Capoeira). Segundo Líbano Soares (1998), “…a Pernada Carioca do passado, um misto de defesa pessoal e brincadeira festiva, engendrava a união e a cooperação entre as populações submetidas ao Estado escravagista, fundamentando as maltas. Nelas, negros e brancos, livres e escravos, estabeleciam relações sociais e encontravam identidade, proteção e solidariedade.”
Em 2005, Mestre Jaburu e seus alunos e alunas de mais de 10 anos de companheirismo e capoeiragem juntos, criam o Movimento Cultural de Capoeira Angola Guayamuns, com o intuito de promover a equidade social e o respeito mútuo entre os indivíduos, através da difusão da cultura negra, da expansão da visão de mundo africano e do ensino da Capoeira que aprendeu no Rio de Janeiro: a “Pernada Carioca”. Atualmente, o Movimento Guayamuns realiza seus eventos (aulas, seminários, saraus, oficinas, rodas e festas) em parceria com Casas de Estudantes, Quilombos Urbanos, Escolas, Sindicatos e outros espaços com os mesmos interesses. Jaburu é reconhecido Mestre Griô, por tradicionalmente compartilhar seus conhecimentos através da oralidade.
“A escrita é uma coisa, e o saber, outra.
A escrita é a fotografia do saber, mas
não o saber em si.”
(Tierno Bokar)
"Você diz que sabe tudo
no fundo não sabe nada...
essa vida só nos leva
é no fio da navalha
o sistema me oprime
o meu mode de eu ser
sei que sou excluído
pelo meu modo de viver
a capoeira me dá força
pra lutar contra o poder
com ela eu aprendi
foi ela quem em ensinou
a lutar contra o sistema
esse sistema opressor!"
(Ladainha - Mestre Jaburu)
